terça-feira, 17 de agosto de 2010

Relato de um sociofóbico

Querido diário,

Encontrava-me na sala de aula, a sineta havia acabado de soar. Os alunos já se encaminhavam desesperados pela saída, porém eu, sozinho, permaneci em meu lugar por um tempo. Quando resolvi sair, tudo começou a acontecer.
Enquanto descia as escadas, todos me olhavam, riam e zombavam de mim. Entre ofensas e empurrões, por vezes tentaram-me passar a perna, me derrubar. No alto da escada uma mulher gritou:
- Ei, você! - com o indicador esticado, apontava para mim, uma voz grave e assustadora, um olhar maléfico e uma atitude rude - Volte aqui, agora!
Apressei o passo, entretanto no corredor foi ainda pior. Por toda a extensão das paredes, alunos se dispuseram formando uma espécie de corredor humano. Atravessá-lo foi como cruzar um campo minado que dá em um rio repleto de crocodilos: a cada passo o risco era maior. Ou talvez tenha sido pior.

Atiraram-me alguma coisa melada assim que alcancei o fim do corredor. Novos risos e ofensas, depois um empurrão tão forte que caí sobre sobras de algum lixo qualquer. Todos me cercaram e gargalhavam cada vez mais alto. Eu queria ir embora, porém nem conseguia ficar de pé.

A sineta soou novamente e os alunos voltaram a entrar na sala seguidos por uma professora apressada, a qual anunciava que a aula começaria imediatamente. Puxei o caderno e, dando atenção agora à professora, esqueci meu devaneio.

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